26 de julho de 2010

Pré-texto.

- Quem você pensa que é? Um merda de nada, um porra-louca que não pensa em mais nada além do seu miserável umbigo. Quer saber? Que se dane sua cara de dó, não tenho pena de você. E não me venha com esses medíocres pedidos de desculpas, não perdôo e ponto final. Que parte não entendeu do "te odeio"? Eu devo não ter me deixado entender mesmo, ou você se faz. Fico com a segunda. Aliás, esse seu descaso me causa náuseas. Olha pra mim, senta aqui que eu ainda não terminei. Fugir sempre foi seu forte, mas hoje é o meu dia e eu vou vomitar tudo o que tá entalado aqui ó. Você pensa que eu nunca sabia de nada. Ledo engano, querido, sou mais esperta que essa minha cara de criada com a vó pode sugerir. E tem mais, quero tudo. Tudo mesmo, não abro mão de nada que é meu. Que fique bem claro que quem lutava aqui era eu. Quem colocou toda essa parafernalha por aqui? Esses móveizinhos, essa decoração demodé que você sugeriu, os quadros, a sugestão de uma vida genial, a porra do futuro, tudo eu, banquei. Talvez se eu não tivesse investido tanto assim... Ah, que se dane o talvez! A merda tá feita. Não quero mais te ver, nem sequer tocar no seu nome, quem me dera poder fazer você sumir num fechar de olhos. Cansei. Meu coração cansou. Falsidade, nunca mais. Adeus.

Ela ajeitou o cabelo no lenço, limpou o estrago da lágrima na maquiagem, respirou fundo e, ainda fitando seus olhos no espelho, pensou: "Hoje eu consigo - Vou falar".
Acendeu um cigarro e saiu rumo à sua ruína.

8 de julho de 2010

Inércia.

Um garoto.
Um dia.
Tarde de sol.
Um acaso.
Outro garoto.
Uma troca de olhares.
Sentimento.
Dois sorrisos.
Um diálogo.
Novo número na agenda do celular.
A noite.
O bistrô.
Duas taças de vinho.
Um cigarro.
Muitas confidências.
Identidade.
A conta.
Uma só carteira.
Uma gentileza de primeiro encontro.
No carro.
O beco escuro.
O beijo.
Um calor no coração.
Duas pessoas.
Uma sorte.
Dois corações.
Um destino.

6 de julho de 2010

Cheiro de Saudade

Ele segurou as mãos trêmulas de Melinda. Sorriu e deu um beijo com gosto de saudade.
- Você vai voltar?
Silenciou e seus olhos marejaram. Pegou o botão de rosa cheirou e deu à ela dizendo:
- O tempo passa, as flores secam, o cheiro fica.
Suspirou.