19 de janeiro de 2011

Coisinha de criança.

Joãozinho deu a mão para o Pedrinho no recreio. Todo mundo riu. Pedrinho saiu correndo. Joãozinho foi embora acanhado. Na hora de dormir, Joãozinho só pensava na mão de Pedrinho e Pedrinho só pensava em como poderia avançar para um beijinho. 

15 de janeiro de 2011

De outras terras.

Sonhava em apresentar novas terras ao seu tão fiel amigo. Só não esperava ter que cobri-lo de terra, naquele buraco.

Resumo musicado.

Nasceu ao som das canções de ninar.
Cresceu ao som ao som das marchinhas carnavalescas.
Beijou ao som improvisado de um jazz.
Fez sexo ao som de Fagner.
Teve seu filho ao som do choro.
Envelheceu ao som de MPB.
Morreu ao som de dois disparos. Trinta e oito.

13 de janeiro de 2011

Pompoarizando.

Ele: Dizem que a técnica do pompoarismo funciona, não?
Ela: E como! Porque faz assim, ó. (Gesto com a mão). Abre e fecha, abre e fecha, com o negócio lá dentro.
Ele: Bom. Com os meus namorados eu também faço isso. Mas com outro órgão.
Ela: Ué, mas como?
Ele: Ai, como não?
Ela: Ah, é fácil. To fazendo agora mesmo.

12 de janeiro de 2011

Brasa.


Eu gosto da tua mão na minha virilha. Apertando, esmagando, destruindo meu desejo. Eu gosto do teu beijo forte, do arranhado da tua barba, da mordida no meu ego. Gosto de entrelaçar nossas pernas e de sentir tua rigidez, me espremendo, me engolindo, usando do meu fogo. Gosto quando prende meus braços e mobiliza meus sentidos, me possui, me lambuza de suor e geme tua excitação. Gosto de sentir teu peso me amassando, de ver nosso sexo em flashes, e da luz das velas no teu corpo nu. Gosto do gozo simultâneo, dos suspiros na orelha, e do frio que sobe pela espinha. Só não gosto quando você fuma seu cigarro, veste sua calça e acena um tchau enquanto conversa com a sua mulher, pelo telefone.

8 de janeiro de 2011

Ato de fala.

Fazendo um extremo esforço, encarou seus próprios olhos no espelho do banheiro e a força do ar advindo dos pulmões, passou pela traqueia atingindo a laringe, encontrando seu obstáculo logo após a glote e emitiu um som oral que muitas vezes só ecoa em pensamento: - Eu sou gay. Os olhos marejaram e os lábios tremeram enquanto os dentes mordiam o canto inferior esquerdo da boca. Silenciou enquanto assistia por cima a própria imagem apoiada na pia com um peso inexplicável nas costas. Respirou fundo, relaxando os ombros, tirando as mãos da pia e derrubando involuntariamente uma lágrima que fora lançada para a frente no ar expirado. A simples emissão sonora daqueles fonemas dispostos naquela linearidade causava um estardalhaço imenso naquele ponto da vida. E sentado no chão do banheiro, imerso em pensamentos calados e surdos, olhou para a maçaneta da porta, ansioso pelo que ela traria depois de aberta.