24 de abril de 2011

Errante.

Ela olhava para os lados sem mover a cabeça. Sorria de canto de boca e pisava nas pequenas poças d'água deixadas pela chuva forte. Agora chuviscava bem fininho, o bastante para ela carregar aquele guarda-chuva vermelho. Ela trazia no coração um misto de nostalgia com vontade enorme de rir, sentimento novo então. Mesmo passando por aquelas ruas vazias, frias e cinzas, sentia certo calor no peito. Andar fazia com que ela descansasse. O dia a cansava, a vida não lhe trouxera mais perspectivas de algum tempo para cá. Só não entendia muito bem essa vontade de rir que lhe tomava as tardes de domingo. Também nunca se atrevera a rir, não. Respeitava muito aquilo de viver sempre séria. O guarda-chuva era o escudo no qual ela conseguia soltar leves risinhos, que lhe limpavam a alma. Lembrava ali da semana toda, e percebia que todos os dias eram iguais, talvez fosse disso a nostalgia, dos dias diferentes. As ruas já iam se acabando mas a vontade de andar e andar lhe era crescente. Parou por um segundo, sentou, fechou os olhos e continuou caminhando, onde iria parar ainda não sabia, mas iria andar, até que o riso lhe fluisse naturalmente e a saudade lhe fosse esgotada.

19 de abril de 2011

O que é nosso.

- Escuta aqui que isso é pra você. Eu ainda te amo. Eu te amo hoje mais que ontem. Agora mais que o eu te amo da frase anterior. Hoje você tem medo do meu amor. Você não quer mais entregar-se ao que o seu coração sente, eu sei. A razão manda que você me esqueça de vez, beije do outro beijo e abrace do outro abraço. Mas seu coração sabe que o beijo não é meu e que o meu abraço está aqui esperando o seu. Eu estou te falando que eu quero. Mais que tudo eu te quero agora, quero provar que dou valor a você, ao seu amor, ao seu abraço. Já não aguento a agonia de estar assim tão longe por tanto tempo. Eu não quero, e me escuta, eu não vou te perder, entendeu? Não vou. Eu vou te buscar, vou fugir com você, vou te desaprisionar desse castelinho maldito que te coloca tão longe de mim. Porque o meu amor não é meu. É nosso. E nós temos o direito de vivê-lo, nós vamos fazer isso. Você me escuta? Hei... Me escuta... Que já não aguento mais gritar. 

18 de abril de 2011

Do calor.

Quando o clima está quente fico muito bem sozinho. O calor é alegre, sorridente, de risadas e samba. Mas é só o frio chegar para eu querer reencontrar um calor. Sim, um calor. Específico. Não gosto muito de sentir saudade. Existe a saudade boa, que é aquela que a gente sabe que vai matar. Existe a saudade ruim, que não poderá mais ser curada. Mas a que mais me incomoda é aquela incerta, que você não sabe se conseguirá matar ou não. A vontade era matar mesmo. Esquartejar a saudade e queimá-la. E quando chega o frio encontro a saudade que tentava esconder numa xícara de chá que embaraça meus óculos, sentado no sofá, debaixo da coberta xadrez, assistindo a um belo drama francês. Ela queima meu coração assim como o chá quando o bebo no primeiro gole. Fecho os olhos e te imagino ao meu lado, dividindo o chá, a coberta, o filme e o calor. E como a saudade queima, sinto uma vontade de calor, mas tudo o que consigo é chorar. Choro por aquele novembro tão feliz, que ter seu toque era comum. Dia desses vi suas fotos, nossas fotos. Deu vontade de voltar, mas essa vontade ja me é tão presente que falar dela é cliché. Em uma dessas fotos estamos nos beijando. Fomos um só aquele dia, e foi bom. Agora é melhor eu parar de lembrar, porque a tarde vem caindo, e esse frio já ai congelando meu coração, fico na esperança do calor, desse calor único, que jamais esquecerei.

13 de abril de 2011

Sendo.

Sou tesão. Quando te vejo atravessar o quarto nua, despida de vergonha.
Sou calor. Quando beijo teus pés frios e aperto teus seios rígidos.
Sou paixão. Quando sinto teu perfume exalando sedução.
Sou pecado. Quando mordo as maçãs da tua face e provo sem mácula do teu fruto.
Sou vermelho. Quando ofego em teu ouvido e acelero.
Sou saliva. Quando beijo e não paro de beijar.
Sou alívio. Quando gozo do teu gozo tão sublime.
Sou você. Quando entro no teu corpo e não quero mais sair.
Sou nós dois. Quando te lembro com saudade e vontade de te ter.
Sou sozinho. Quando olho para o lado, e ali não é você.