30 de agosto de 2010

Covardia.

Ele segurou no parapeito e deixou que o vento carregasse para a esquerda a lágrima seca que caía de seu olho direito. O céu noturno cheirava a arrependimento tardio e solidão, simultaneamente. Ele mirou uma única estrela que quase se escondia sob as nuvens claras do luar, e refletiu. Pensou na resposta amarga que ouvira, e que não queria e nem precisava receber. Não teria sido tudo fruto de sua fértil imaginação, estava na cara, o outro decidira mudar de opinião e deixá-lo assim, como quem não sabe de nada, nem nunca soube. Covardia. Era a palavra que martelava constantemente em sua cabeça enquanto seus lábios tremiam num choro de criança que seus olhos ameaçavam começar. Não vou chorar. Engoliu o choro num soluço. A vida lhe ensinara a não entregar rosas assim, para qualquer um.Covardia. Por mais que seus olhos soubessem da verdade do outro suas pernas queriam fugir daquilo. Melhor seria nem ter entrado naquilo. Então por que me pediu verdade? A verdade é que você vive de conveniência, e eu me esgotei da sua podridão disfarçada de ingênua intelectualidade. Covardia. Encheu o peito para um berro. Desistiu. Gastou o ar com um choro forte e angustiado. Sentou no chão e teve a sensação de estar sozinho. E estava. Limpou o nariz com o punho e sentiu o cheiro do perfume tão elogiado. Covardia. Elogios covardes. Acreditar era um verbo que insistia em permanecer no seu léxico. Construir sonhos tão grandes em pessoas tão pequenas, já tinha ouvido falar nisso. Aqui o referido verbo falhara. Por que não ouvi quando eu mesmo me alertava? Eu quis. Covarde. Covardia. E tentando se acalmar, adormeceu. Mergulhado em emoções passageiras e perdido na solidão do chão frio. Covardia. E de fato, o era. 

26 de agosto de 2010

25 de agosto de 2010

Boas Novas.

Sentou na calçada que já não tinha mais o mesmo tamanho que antigamente e ficou pensando nas aventuras da infância.

 Bets, esconde-esconde, carrinho de rolimã, bugalha, queimada, três-cortes, pega-pega. Sentiu no peito um misto de saudade e medo pelo que viria. Ficou pensando em como seu pai o tratava. "- Júnior, entra logo moleque, tem que tomar banho". Odiava aquele sentimento de ter que abandonar os amigos da rua e ficar dentro de casa. Com os pés bem encardidos entrava e enrolava no banho brincando com a espuma do xampu. "- Júnior, não sou sócio da Sanepar, não, garoto, apura isso aí!". Alguns dias de frio fingia uma dor de cabeça só para não ir à escola, papai e mamãe trabalhando, vovó fazia pão de casa e ele comia com margarina derretendo e chocolate quente assistindo à "Sessão da Tarde". O pai vez em quando dava uma moeda de cinquenta centavos, era uma real fortuna, dava pra comprar cinco canudos recheados com doce de leite no mercado da vila. Algumas vezes ficava de castigo por bater na irmã ou alguma outra arte, mas geralmente era por bater na irmã. Lembrou-se de quando colocou uma tachinha para a irmã sentar. Foi cruel, mas só se dera conta disso depois de ver a cara de desespero da maninha. 

Quando se deu conta estava rindo sozinho. Viu como era bom tudo aquilo e recebeu o choque da consciência pensando no que viria. Seria muito mais difícil ver tudo isso de cima? Agora seria sua vez de chamar para o banho ou de reclamar que este está demorado. Gelou a barriga, suspirou e aceitou a notícia recente com um sorriso de canto de boca. 

Podridão Escondida.

A coisa mais feia que fazia escondido era cutucar o nariz.

Morte Doce

Tomou um litro de tubaína. Morreu de Diabetes.

Desculpa Drummondiana.

- Ei, você demorou, o que aconteceu?
- É que no caminho tinha uma pedra...

23 de agosto de 2010

Ainda bem.


É pra você. Esse texto só pode ser lido ao som da canção acima...

Ainda sinto seu cheiro. Ainda pego tua mão e quando me vejo, não. Mudo a TV pro seu canal preferido mas você não passa. Você deixou algumas roupas, peças íntimas, que de tão íntimas, não saem de mim. Ainda sinto seu beijo, mordendo um dos meus lábios e arrepiando minha nuca num frio que o teu calor me traz, me trouxe e continua a trazer. E trago. Trago no cigarro a lembrança das tuas fumaças escondidas, e me lembro. Ainda grito teu nome recente no meio da noite. Silencio quando não te vejo, me enjôo quando não sinto teu cheiro, tal ausência me embrulha. Ainda tenho teus presentes numa caixa, embrulhados num papel manteiga, que é pra ver se fica fosco. Ainda tenho dejavus intensos. Segunda-feira, prometi pra mim mesmo, vou parar. E ainda paro. Ainda paro no velho banco branco de madeira e descasco a tinta seca nos finais de tarde frios. Agora eu mesmo estalo meus dedos, mas ainda lembro. Num constante movimento mnemônico me dei conta de que ainda choro, mas ainda sorrio, ainda deito, mas continuo seguindo, ainda calo, no entanto posso falar, ainda teimo, e continuo a teimar. Ainda desisto, contudo existo e ainda existo. Ainda. Ainda bem.

20 de agosto de 2010

18 de agosto de 2010

Fina Saída

A anorexia tenta se justificar com base na economia:
 "- Tudo culpa desses tempos... épocas de vacas magras..."

Encontro Matemático

Um mais um não é mais dois. Vou somar nossas desavenças e dividir nossa relação, hoje a noite.



Consciência Despreconceituosa

Tudo bem, nunca fui contra macho com macho, mas não mexa comigo, falou?