27 de dezembro de 2010

Pra quebrar a rotina.

Levantava pela manhã, enxaguava o rosto, escovava os dentes, vestia a roupa, não comia de manhã, assistia cinco minutos do jornal matinal, ia para o carro, trabalho, almoço pelo centro, seis horas para casa, banho fresco, um pouco de internet, novela e cama. Tirando os feriados e dias santos essa fora sua rotina por pelo menos seis anos, que eu me lembre. Não reclamava da vida, tinha alguns amigos, poucos, mas tinha. Ia para o salão em eventos especiais, casamentos e só. Num desses dias acordou sentindo falta. Sentiu falta de sentir falta e um amor, talvez uma paixão, alguém assim que pudesse quebrar sua rotina, pelo menos um colo para poder deitar depois das seis, descansando o dia de trabalho com um bom cafuné. Aquela semana foi de falta. Decidiu contar para um amigo, não sabia se era boa decisão, mas contou enquanto dirigia , era final de ano, momento mais reflexivo e de sonhos de Papai-Noel. Buzina forte e bow. Pronto, era tudo o que precisava para um final de ano. Seu carro batido por culpa das distrações adolescentes dos sonhos de paixão que tentam destruir o rumo tão correto da rotina. É. Naquele momento seis anos seguidos foram interrompidos. O amigo assistia boquiaberto a cena cinematográfica do deus grego descendo do carro em câmera lenta, sem aliança, e com sotaque de deixar qualquer estômago com mil borboletas. Ninguém poderia contar com uma surpresa daquelas que traria muito mais que um e-mail trocado, ou um convite pra jantar. Talvez um presente de Natal, como sugeriria ele numa cantada barata. Talvez o fiim da rotina. Pra sempre. Até enquanto o encanto durar.