25 de agosto de 2010

Boas Novas.

Sentou na calçada que já não tinha mais o mesmo tamanho que antigamente e ficou pensando nas aventuras da infância.

 Bets, esconde-esconde, carrinho de rolimã, bugalha, queimada, três-cortes, pega-pega. Sentiu no peito um misto de saudade e medo pelo que viria. Ficou pensando em como seu pai o tratava. "- Júnior, entra logo moleque, tem que tomar banho". Odiava aquele sentimento de ter que abandonar os amigos da rua e ficar dentro de casa. Com os pés bem encardidos entrava e enrolava no banho brincando com a espuma do xampu. "- Júnior, não sou sócio da Sanepar, não, garoto, apura isso aí!". Alguns dias de frio fingia uma dor de cabeça só para não ir à escola, papai e mamãe trabalhando, vovó fazia pão de casa e ele comia com margarina derretendo e chocolate quente assistindo à "Sessão da Tarde". O pai vez em quando dava uma moeda de cinquenta centavos, era uma real fortuna, dava pra comprar cinco canudos recheados com doce de leite no mercado da vila. Algumas vezes ficava de castigo por bater na irmã ou alguma outra arte, mas geralmente era por bater na irmã. Lembrou-se de quando colocou uma tachinha para a irmã sentar. Foi cruel, mas só se dera conta disso depois de ver a cara de desespero da maninha. 

Quando se deu conta estava rindo sozinho. Viu como era bom tudo aquilo e recebeu o choque da consciência pensando no que viria. Seria muito mais difícil ver tudo isso de cima? Agora seria sua vez de chamar para o banho ou de reclamar que este está demorado. Gelou a barriga, suspirou e aceitou a notícia recente com um sorriso de canto de boca. 

Um comentário:

  1. Todo mundo pronto para ser pai. Para ser mãe. Filhos, um dia todo mundo vai querer um.

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