8 de janeiro de 2011

Ato de fala.

Fazendo um extremo esforço, encarou seus próprios olhos no espelho do banheiro e a força do ar advindo dos pulmões, passou pela traqueia atingindo a laringe, encontrando seu obstáculo logo após a glote e emitiu um som oral que muitas vezes só ecoa em pensamento: - Eu sou gay. Os olhos marejaram e os lábios tremeram enquanto os dentes mordiam o canto inferior esquerdo da boca. Silenciou enquanto assistia por cima a própria imagem apoiada na pia com um peso inexplicável nas costas. Respirou fundo, relaxando os ombros, tirando as mãos da pia e derrubando involuntariamente uma lágrima que fora lançada para a frente no ar expirado. A simples emissão sonora daqueles fonemas dispostos naquela linearidade causava um estardalhaço imenso naquele ponto da vida. E sentado no chão do banheiro, imerso em pensamentos calados e surdos, olhou para a maçaneta da porta, ansioso pelo que ela traria depois de aberta.

Um comentário:

  1. Reconhecer-se. Tarefa difícil, para poucos. Mostrar-se do jeito que é? Sem medo, dando a cara a tapa? Para poquíssimos. Só para especiais.

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