24 de abril de 2011

Errante.

Ela olhava para os lados sem mover a cabeça. Sorria de canto de boca e pisava nas pequenas poças d'água deixadas pela chuva forte. Agora chuviscava bem fininho, o bastante para ela carregar aquele guarda-chuva vermelho. Ela trazia no coração um misto de nostalgia com vontade enorme de rir, sentimento novo então. Mesmo passando por aquelas ruas vazias, frias e cinzas, sentia certo calor no peito. Andar fazia com que ela descansasse. O dia a cansava, a vida não lhe trouxera mais perspectivas de algum tempo para cá. Só não entendia muito bem essa vontade de rir que lhe tomava as tardes de domingo. Também nunca se atrevera a rir, não. Respeitava muito aquilo de viver sempre séria. O guarda-chuva era o escudo no qual ela conseguia soltar leves risinhos, que lhe limpavam a alma. Lembrava ali da semana toda, e percebia que todos os dias eram iguais, talvez fosse disso a nostalgia, dos dias diferentes. As ruas já iam se acabando mas a vontade de andar e andar lhe era crescente. Parou por um segundo, sentou, fechou os olhos e continuou caminhando, onde iria parar ainda não sabia, mas iria andar, até que o riso lhe fluisse naturalmente e a saudade lhe fosse esgotada.

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