26 de maio de 2010

Pretérito Imperfeito do Subjetivo.

As coisas tinham envelhecido mas matinham ainda a mesma disposição. A ferrugem da antiga mesinha de ferro ornava com as folhas secas da árvore de uva-da-índia no clima gélido de outono. O sol ardia secando o orvalho que cobria tudo ao redor mas um vento frio cortante penetrava as frestas, uivando. O cercado de arame farpado e madeira velha parecia frágil e impotente. Uma pombinha tentava alimentar seus filhotes que ansiavam pela mãe no ninho aquecido da árvore. Alguém chegava andando sobre os montes de folhas murchas da umidade matinal. Sua face era um misto de rugas e nostalgia mas o olhar era o mesmo. O azul vivo dos seus olhos pintava o céu de poucas nuvens e observava a curiosa lembrança eternizada na cena bucólica. Sentou-se e ficou estático nas lembranças que corriam. Antigamente as outras cadeiras que rodeavam a mesinha tinham seus donos. Tudo tinha acontecido tão rapidamente que ele não imaginava estar ali um dia, sozinho e arrependido. Visualizou os erros do passado e respirou nostalgia. Não era fácil voltar à origem do futuro presente. Pensou em como produziria seu epitáfio e concluiu que havia coisas ainda inacabadas. Esperou ansiosamente avistar alguém chegando. Ilusão. A solidão fora sua escolha e de brinde o arrependimento. Se ele ao menos pudesse... Mas não havia mais se. Resolveu aproveitar cada momento que estaria por vir. O presente encorajara-se e o pretérito construiria o futuro. Levantou-se, olhou para o horizonte e teve a sensação de um parto. A partir daí, recomeçou.

3 comentários:

  1. Eu quero escrever bonito assim também!
    Como eh que faz?!?!
    Hehehe

    Parabéns meu lindo, belo texto!
    Sou sua fã!

    Beijos

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  2. Ótimo texto com uma pré-disposição para ser continuada incrível... Não só deste como de vários de seus textos.

    Essa é a sensação que me dá sempre que leio algo seu. Um pouco d'água, preso num pacote plástico, de um vasto oceano.

    Sempre intrigante, faz-me querer completar com inúmeros contextos.

    Continue escrevendo, pois escrever faz com que uma extensão de nossa alma se transceda.

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  3. Lindo. Espero que volte a nos dar o ar de sua graça com mais frequência. Porque tenho certeza de que mereço ler seus textos sempre! Amei!

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