3 de novembro de 2010

Um jeito de lavar a dor.

Secou as mãos úmidas e geladas na beira do avental enquanto os lábios tremiam anunciando um choro sofrido. Sentou devagar no canto da cadeira que se encontrava espremido naquela lavanderia. Segurou um soluço colocando o lenço na boca que acabara de desatar da cabeça. Sentia saudade. Saudade é bicho que dói - ouvira. Mas pior que sentir saudade era não poder matá-la. Quando pensava nisso sentia mais vontade de chorar. Levantou rapidamente quando pensou ouvir a patroa se aproximar. Não era, não sentou mais. Ficou enconstada esperando a centrífuga trabalhar. Enquanto a roupa girava ela pensava nas voltas da vida que a trouxeram ali, naquele cubículo apertadinho. Passou a mão pelo rosto enxugando a lágrima que descia sinuosa pelas rugas salientes dos seus sessenta e poucos. Sentiu-se sozinha. Ai, que dor. Disfarçou um pouco e sentou novamente adormecendo encostada na pilha de roupas sujas que a dor não a permitira ainda lavar.

3 comentários:

  1. Eu sinto as dores da velhinha e a exergo perfeitamente. Ser sozinha cansa, em qualquer idade, não?

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  2. Saudade é o bicho que danado, que muitas vezes acaba nos levando a fazer coisas que nunca pensamos em fazer.
    E aquela que dói mais é a saudade de quem já se foi
    =/

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