6 de abril de 2010

Cheirinho de Talco

Havia chegado o grande dia. Me sentia tão ansioso e ao mesmo tempo tão confuso. Sempre esperei e jamais imaginei que aquilo pudesse mesmo se concretizar. Como seriam os seus traços? Será que alguem o olharia e nele encontraria algum traço meu? "A boquinha do papai"... "Teimoso feito você"... O relógio pesava tanto que os ponteiros não ousavam mexer. Somente meu pensamento girava, num fluxo familiarmente estranho. Diante dos olhos o futuro incerto. Como viesse eu o aceitaria, e sabia que não seria meu, seria de mim. Parte de mim. Eu o aceitava mas não sabia se ele me aceitaria. Talvez se eu dedicasse toda minha atenção a ele... Muito cedo para prever. Eu só queria mesmo sentir o momento de escutar o choro desafinado e aflito da vida me presenteando com uma vida. E eu que achava que o mundo era injusto comigo. Voltei para sala onde ainda me encontrava. Notei que não havia me movido. Nem o ponteiro. Escutei um sussrro em meu ouvido me dizendo: "Calma"... Virei-me e abracei-o junto a mim. Claro, fora ele a peça decisiva da minha atitude. Bem ali, na minha frente. Cansado, preocupado, ansioso e angelical. Mirei seus olhos com a certeza da segurança que um fio de medo tentava cortar. Frio na barriga, mãos suando, um beijo. Ele me disse:" -Eu te amo e essa é nossa maior concretização." Eu mal podia acreditar, esfregava os olhos e tentava acordar de um sonho real. Tentava imaginar minha vida com ele e concluía que jamais iria querer viver sem ele. Tudo preparado, seu enxoval, seu quartinho, os brinquedinhos, uma canção de ninar, um beijinho de esquimó. Só faltava ele. Eu tinha nascido para aquele momento, era como se ele estivesse dentro de mim e, na verdade, ele já estava. Como poderia ter desistido daquele momento? Jamais poderia deixar de agradecer à doce sunshine que o gestou para nós. A ela daria todo o carinho merecido, por ter entendido minha necessidade de amar. Aquele ser tão fragilzinho que apareceria em minutos nas mãos daquele moço de branco. Sentei exausto na cadeira fria que me deu um cohque térmico. Adormeci nos braços do meu amor. Acordei com um sonho gemendo. A partir dali, sou feliz. Deus, de fato existe. E tem cheirinho de talco.

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