Para meu querido e amado gigante anão. Do seu tamanho.
Antes da profecia um histórico. Ele nasceu. Fato indiscutivelmente relevante, imutável. Como muitos por aí nasceu com cinco dedos em cada pé, olhos desconfiados e não estou bem certo se tinha cabelos. Tudo certo por fora. Nada certo por dentro. Sei que tudo estava embaralhado como numa pintura surrealista de Dalí. Coração pelo avesso, cabeça em outro lugar, e um terno que não o servia. Cresceu assim. Como também tinha cérebro foi percebendo sua escondida diferença. Não pôde fazer mais nada a não ser aparentar. O espelho estava de cabeça para baixo. E ele mesmo virava, todos os dias. É claro, havia ajuda da família, dos chegados, dos vizinhos, de muita gente. O espelho era pesado demais, mas que fique bem claro a decisão era dele, já que ele mesmo decidira usar uma venda. Não, ele não era culpado. Tomar decisões nem sempre são escolhas nossas. Nada é nosso, a história e a sociedade já decidiram e aí morou o perigo. No mar perigoso aventurou-se. Beijou, gostou, trepou, amou, reproduziu e pronto. Enfim, viveu. Que ninguém culpe nosso anão aqui. Ninguém é culpado por viver. Aliás, quem seria mais culpado: quem vive ou quem ensina a viver? Enfim, gigante anão estava bem. Bem, nem tanto. O fato é que um dia o espelho começou a pesar e virá-lo estava sendo um trabalho complicado pois exigia brigar consigo, tarefa árdua para quem nasceu para viver. Todos já acreditavam na força do gigante anão e num gesto motor nem checavam mais o pesado espelho. Foi então que um dia nosso anão decidiu fazer menos esforço. Deixou de brigar consigo para aventurar-se nas sensações trêmulas e ridicularmente amedrontantes. Entrou num carro aquele dia. Conheceu alguém e mais alguém, até parar num lugar. Lugar bom. Meio escondido mas bom. Não era culpa dele, convenhamos. Mas perceberam seu tremor e sua gagueira. Investigaram e encontraram por trás de muitas cordas pesadas um espelho em pé e de cabeça para cima. Quiseram matá-lo de culpa. Deus usou seu amor para abandoná-lo. E foi assim que nosso gigante ficou sozinho. As pessoas grandes olhavam-no com ódio e desviavam o olhar. É feio e incomum um anão corajoso. Mas as vezes a coragem precisa ser partilhada. Como numa trança. Três cordas não são só uma. E ele era apenas uma. Uma corda que enforcou-se no teto da solidão. Recebeu um documento escrito por ele mesmo que dizia para deixar de ser corajoso. Não foi culpa dele, mais uma vez. E assinou o documento, com caneta nanquim molhada no sangue do próprio peito. Tarde demais. Quem se enxerga nunca mais esquece quem é de verdade, nem que empenhem esforços mirabolantes para o esqucimento. E assim viveu cego e enxergando, simultaneamente. Percebeu o quanto era gigante sua aparência, mas tatuou na memória sua essência. E gostou. Os envolvidos não gostaram, mas estamos aqui para falar do nosso anão. Bem, depois de muitos seres diferentes caiu na real. E o real é o presente. Pensativo, reflexivo, cheio de questões de arrependimento, foi estudar. Gente letrada diz que entende das coisas, sei não. Sei que serviu para o anão. Ele agigantou-se no conflito da incerteza até chegar aqui. Sinceramente, aconselhei que ele vivesse. Um batido carpe diem, mas que teima em dar certo. Bem... usando de todo meu poder e carinho pediu-me uma profecia. Ela surgiu-me de relance e mais aparentou uma ordem. Não questiono essas coisas. Mas ela é profecia e ordem ao mesmo tempo. Ei-la: VAI SER FELIZ. Ponto final para o seu início. É isso.
Antes da profecia um histórico. Ele nasceu. Fato indiscutivelmente relevante, imutável. Como muitos por aí nasceu com cinco dedos em cada pé, olhos desconfiados e não estou bem certo se tinha cabelos. Tudo certo por fora. Nada certo por dentro. Sei que tudo estava embaralhado como numa pintura surrealista de Dalí. Coração pelo avesso, cabeça em outro lugar, e um terno que não o servia. Cresceu assim. Como também tinha cérebro foi percebendo sua escondida diferença. Não pôde fazer mais nada a não ser aparentar. O espelho estava de cabeça para baixo. E ele mesmo virava, todos os dias. É claro, havia ajuda da família, dos chegados, dos vizinhos, de muita gente. O espelho era pesado demais, mas que fique bem claro a decisão era dele, já que ele mesmo decidira usar uma venda. Não, ele não era culpado. Tomar decisões nem sempre são escolhas nossas. Nada é nosso, a história e a sociedade já decidiram e aí morou o perigo. No mar perigoso aventurou-se. Beijou, gostou, trepou, amou, reproduziu e pronto. Enfim, viveu. Que ninguém culpe nosso anão aqui. Ninguém é culpado por viver. Aliás, quem seria mais culpado: quem vive ou quem ensina a viver? Enfim, gigante anão estava bem. Bem, nem tanto. O fato é que um dia o espelho começou a pesar e virá-lo estava sendo um trabalho complicado pois exigia brigar consigo, tarefa árdua para quem nasceu para viver. Todos já acreditavam na força do gigante anão e num gesto motor nem checavam mais o pesado espelho. Foi então que um dia nosso anão decidiu fazer menos esforço. Deixou de brigar consigo para aventurar-se nas sensações trêmulas e ridicularmente amedrontantes. Entrou num carro aquele dia. Conheceu alguém e mais alguém, até parar num lugar. Lugar bom. Meio escondido mas bom. Não era culpa dele, convenhamos. Mas perceberam seu tremor e sua gagueira. Investigaram e encontraram por trás de muitas cordas pesadas um espelho em pé e de cabeça para cima. Quiseram matá-lo de culpa. Deus usou seu amor para abandoná-lo. E foi assim que nosso gigante ficou sozinho. As pessoas grandes olhavam-no com ódio e desviavam o olhar. É feio e incomum um anão corajoso. Mas as vezes a coragem precisa ser partilhada. Como numa trança. Três cordas não são só uma. E ele era apenas uma. Uma corda que enforcou-se no teto da solidão. Recebeu um documento escrito por ele mesmo que dizia para deixar de ser corajoso. Não foi culpa dele, mais uma vez. E assinou o documento, com caneta nanquim molhada no sangue do próprio peito. Tarde demais. Quem se enxerga nunca mais esquece quem é de verdade, nem que empenhem esforços mirabolantes para o esqucimento. E assim viveu cego e enxergando, simultaneamente. Percebeu o quanto era gigante sua aparência, mas tatuou na memória sua essência. E gostou. Os envolvidos não gostaram, mas estamos aqui para falar do nosso anão. Bem, depois de muitos seres diferentes caiu na real. E o real é o presente. Pensativo, reflexivo, cheio de questões de arrependimento, foi estudar. Gente letrada diz que entende das coisas, sei não. Sei que serviu para o anão. Ele agigantou-se no conflito da incerteza até chegar aqui. Sinceramente, aconselhei que ele vivesse. Um batido carpe diem, mas que teima em dar certo. Bem... usando de todo meu poder e carinho pediu-me uma profecia. Ela surgiu-me de relance e mais aparentou uma ordem. Não questiono essas coisas. Mas ela é profecia e ordem ao mesmo tempo. Ei-la: VAI SER FELIZ. Ponto final para o seu início. É isso.
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