30 de setembro de 2010

Brincadeira de Criança.

Sua brincadeira predileta era esconde-esconde. Há dois anos está desaparecido.

Luto

Enquanto eu descia a rua de barro, as pessoas me encaravam. A rua sem pavimentação, os olhares sem esperança, as casas sem zelo, as pessoas sem voz. A cada passo um aperto no coração. Uma criança chorava descabelada no colo de uma adolescente, talvez mãe. A natureza não era bonita naquele lugar, parecia triste também com a situação. O som de um rap nacional dizia: "Se Deus é por nós, quem será contra nós? Só os alemão, os playboy e as polícia memo". Engoli seco, mais um aperto no coração. Meu jeito de professor impunha um respeito que ainda os mais velhos nutriam. Continuei descendo a rua cheia de pessoas e tristeza até chegar na casa. Não sei se casa seria o melhor termo. Barraco, como eles o chamam. Madeira velha amontoada mobiliada por móveis comprados a prestações e sujeira. Muita sujeira. Na frente da casa, a bandeirinha da funerária. Na frente dos olhos a revolta e o inchaço. Não existiam lenços para enxugar as lágrimas que pingavam dos olhos abertos de pavor. Com os punhos fechados limpavam os olhos e engoliam o choro como quem engole coragem para vomitar revolta. No caixão, o rapaz de seus vinte o poucos anos. A mãe chega para mim e diz que minhas alunas, filhas dela também, estão dentro de casa, com vergonha de mim, por causa da casa feia, do irmão morto, e da aparência abatida. - Posso vê-las?, pergunto. Sem palavras a mãe acena que sim. Sigo por dentro do barraco de três cômodos e encontro as duas sentadas escondendo o rosto. Em poucas palavras digo que poderiam contar comigo. Sem me convencer de que poderia mesmo ajudar em algo, viro as costas e preciso partir. Com as pessoas ainda me olhando vou subindo o morro abandonado. Nas costas, o peso de poder só observar. Nos olhos, uma lágrima de indignação  e a vontade de gritar. Subo em silêncio até chegar no asfalto, onde no muro está escrito: "Por isso nós é bandido."

28 de setembro de 2010

Cheirinho de decepção.

Narizes. Ele amava narizes. Só não gostava daqueles peludos, os pelos não faziam uma boa imagem. Um nariz um dia o encantou. Era um narizinho arrebitado e sardentinho. Não sabia o que vira naquele nariz. Poderia ser um nariz a mais, já reparara em tantos outros, mas não. Aquele era o nariz. Pensou em presenteá-lo com os lenços mais bonitos do mundo, a fim de conquistá-lo. Lenço era coisa do passado, logo desistiu. Então pensou em buscar os cheiros mais cheirosos de toda a história, e buscou na internet o mais caro. Vinha da França e era, de longe, o melhor cheiro que algum nariz já pôde cheirar. Chegou todo tímido. Sem saber o que fazer pensou em nada dizer, apenas entregar o belo odor. Maldito amigo traseiro, de ansiedade soltou antes outro cheiro. Fim de uma relação que nem chegou a ter um cheiroso começo.

27 de setembro de 2010

Sem sorte, sem sorvete.

O velhinho sentado no meio-fio, pensava no que faria sem seu carrinho de picolé, ou no que os ladrõezinhos fariam com ele.

Quase real.

Quando ia chegar lá, acordou. Maldito sono leve.

21 de setembro de 2010

Historinha frustrada.

Sem ar, sem sentido, sem medo,
Com paixão.
Sem mácula, sem roupa, sem receios,
Com tesão.
Sem bis, sem chance, sem fim,
Confusão.

Miss Gali.

Ela sonhava com belos pintinhos, dos bem amarelinhos.
Só conseguia ovos chocos, e ciscava desesperada.

Dali pra frente

Suspirou deitado no colo dele.
- O que é isso que estou sentindo?
E ele, com olhar brilhante e sorriso penetrante disse:
- O que sente é o começo, só o começo...

16 de setembro de 2010

Retoricamente Falando.

Ele me disse que seríamos felizes para sempre.
Hoje, dando de mamar, sinto saudade do que ele dizia.

Substituição.

Neste outono as flores decidiram sentar-se ao meu lado. Sempre soube que elas o invejavam.

15 de setembro de 2010

No cais, de volta.

Ela trazia nos olhos marejados a saudade de meses que agora aliviava mordendo os lábios e apertando o avental florido.
Ele desrespeitava sua virilidade masculina tremendo os músculos do rosto quando não conseguiu conter o choro da alegria por vê-la de novo e quase se desequilibrava com a mala velha correndo a passos curtos naquele estaleiro.
Não havia mais multidão, ela sumira no abraço apertadoda saudade e no beijo que só o sol poente testemunhara ao som da música aliviante que os corações cantavam.

Tudo em Nada

- Não digo nada.
E nessa fala, disse tudo.

10 de setembro de 2010

O Encontro.

A lua sempre esperava o sol, todo dia, até amanhecer. Quando se encontraram, fizeram um eclipse gostoso.

9 de setembro de 2010

Estourando o Limite.

Riu da sandália de pobre da menina enquanto andava sobre a sandália chique nova que comprou em dez vezes, sem juros.

8 de setembro de 2010

Pra tapar a saudade.

Teu corpo, deitado na cama, parece usado.
O cheiro do sexo me lembra o que passou.
Fumando este cigarro, expiro saudade.
Do meu querido, único, e verdadeiro amor.

Desnível.

Carregando a sacola de pão da patroa, sentiu pena do filho que deixara na creche, sem comer.

Facinho

- Segura minha mão?
- Seguro.
- Ai, você é fácil demais.

Na base do troca.

Morria de medo da mãe flagrá-lo com o priminho.

Variando.

Enquanto esperava o ônibus pensava numa forma de burlar uma nova identidade.

Dózinha

Mirou aqueles olhinhos lacrimejantes e sentiu pena pelo fora que teria que dar.

Baile de Formatura

E terminando a dança, já sentiu saudade da sua velha turma de ensino médio.

7 de setembro de 2010

Abandonando.

Beijou a criança e, já de costas, pensou na dor do suicídio.

Deixando a canção falar.

Acho que Maria Rita expressa melhor tudo o que quero dizer. =)




Beijos, Que-ri-dos.

Guerra Linguística

As palavras empunhavam espadas.
As tonalidades vestiam-se perto da fronteira do grito.
Os adjetivos feriam vorazmente os pronomes pessoais.
O Rei era a ironia e soltava crases culpando a todos.
Por fim, feriram-se somente os corações.

Plágio

Amou daquela vez como se fosse a última. Ops. Já ouvi isso.

Tadinha.

Escondeu sua baixo auto-estima num poço de Ironias. Não era de se esperar menos. Filho de peixe.

Resposta, mesmo sem direitos. =)

Eles se casaram. De preto e preto. Para acabar com uma história, talvez? Não se sabe... Por que os dois não eram puros? Não se sabe... Entenderam o seguinte...Hominho com hominho, como não indica nenhum filminho. Não os de hoje.

6 de setembro de 2010

Lógico

Bonzinho só se fode. Ele tava na seca, era chato demais.

Aham

Escorregou acidentalmente numa casca de banana. Ele também riu, acidentalmente.

5 de setembro de 2010

Lições da Vovó

Temos a nossa visão de mundo. Vamos crescendo e nos munindo de informações que tomamos como pontos finais e ponto. Existem pessoas que matam e morrem por seus pontos de vista. Há quem diga que esta é a graça da vida. Eu não sei. Ando percebendo ultimamente que somos nada mais que mera história e que a única coisa que fizemos foi acreditar nas coisas que nos foram ditas e cá estamos nós, bem como as situações foram nos moldando. Me incomodava com minha avó querendo me ensinar coisas que julgava ultrapassadas mas ao mesmo tempo também me incomodava com alguém mais novo que discordasse de mim. Por isso, decidi. Decidi entender que sempre existirão pessoas pensando aqui e acolá, divergindo ou não de mim, mas o mais importante é que pensam, e trazem sua história. Eu carrego a minha. Decidi ignorar aquilo que os outros acham e evitar discussões ignorantes. A ausência de uma opinião explícita não implica na sua não-existência. Decidi ir mais fundo. Ao contrário do que pode estar pensando, não agirei tão passivamente assim. Decidi fazer. Fazer com que as coisas aconteçam do meu modo e mostrar, muito mais do que falar sobre essas mesmas coisas. Quem for bom mesmo de opinião, entenderá. Aí fiquem à vontade para criticar. Eu não vou criticar o que vocês fizerem. Não mesmo. Não posso me julgar melhor que ninguém, sempre existem dois pontos para se ver uma coisa, de cima, ou de baixo. E as coisas, essas permanecem no mesmo lugar. E olha, nesse silêncio agente, não é que aprendi que minha vó pode me ensinar muita coisa?

Eutanásia.

Desligou os aparelhos e pegou o envelope com os papéis da herança.

Com modos

Ele fazia o tipo simpático. Sempre sorria antes de apertar o gatilnho.

Breve História de Amor.

Nasceu, cresceu, entendeu.
Beijou, lambeu, amassou, comeu, trepou.

Morreu, de Amor.

Surpresa

Olhou bem no fundo daqueles olhos de ternura e disse com elegãncia:
-Filho da Puta.

Quase

- Isso, vai, to chegando lá... Eii.. não para, onde você vai?
- E isso é pra você pensar bem antes de chamar alguém de puta. Aqui não, querido.

Memória

Abriu o livro e encontrou a flor que já secara, assim como o que representava.

Preocupação

Lá do alto do prédio pensava em quem visitaria seu velório.

4 de setembro de 2010

A Vaca

Ela era chata. Sabia ser chata, como ninguém. Ainda tinha alguns inocentes amigos que a engoliam, até o momento que ela resolvesse dar uma bela patada que já afastava as pessoas. Ela dizia ser mulher de opinião. Mas, sinceramente, todo mundo queria que ela explodisse, virasse lenda, quando começava a esboçar suas opiniões, que geralmente era causa de discordância por parte de todos, no entanto, para evitar quaisquer intriga que ela tentava fomentar, as pessoas deixavam quieto. Ai de você se discordasse dela. Ai de você. Você poderia levar um belo murro. Há quem sentisse vergoha alheia só de ouvi-la começar a falar de suas ideias egocêntricas e esquisitinhas. Ela parecia não precisar de ninguém. Que se dane a opinião dos outros, a dela já era bem formada e tolo de quem tentasse contrariar. 

Por baixo de tanta dureza e casca-dura: Um coração.


Incoerente

Ele era homfóbico. Também detestava espelhos.

1 de setembro de 2010

Da Voz da Chuva

Do lado de fora, chovia, uma chuva suja e pesada. Ele exigia muito de si. Todo mundo comentava. Mas ele não achava demais cobrar de si uma vida boa. Talvez se deixasse de lado as preocupações as coisas simplesmente acontecessem. Mas a falta de previsibilidade o mataria. Ele não suportaria. Por outro lado os outros também o cobravam. Tudo bem, não fosse o fato de cobrarem dele tudo o que ele não queria. Que se danem os outros, os planos, os fracassos, os anos,  tempo, decepções. Teve vontade de chorar e jogar tudo pelos ares mas ao mesmo tempo sentia no peito uma vontade de colocar as coisas nos eixos. Alguém lhe ensinara a tentar dormir aquela noite. Respirou fundo, foi relaxando cada músculo, começando no dedinho do pé. Relaxara tudo, seu cérebro funcionava, a mil. Sem muito o que fazer decidira chorar. Seus olhos decidiram por ele. Chorou, deixou a lágrima lavar cada pensamento, cada pressão infundada, as decepções passadas, as decepções à vista, lavou sua auto-cobrança e também todo e qualquer resquício de mágoa. Ficou sozinho, ele, suas lágrimas  e a chuva, que agora caía límpida e calma tentando dizer em cada pingo que caía lentamente: Plin... Ploft... Pron... to... Pass.. sou.. Plin... Ploft... Pron...to... Pass.. sou...