3 de julho de 2011

Quando fechar a porta dói.

O fato é que eu me apego às paredes. De alguma forma elas acompanham todos meus momentos, guardam meus segredos e silenciam, sempre. Sentei no chão frio do quarto agora nu, e um filme projetou-se na parede. Minha primeira noite de sexo, a fúria de uma briga acalmada nas paredes do quarto, um desabafo com a amiga e porcarias para comer, os sonhos esquisitos, o sussurrar no celular, a nudez desenvergonhada e os textos escritos, compostos em parceria com aquele lugar. Tudo encaixotado. Em papelões quadrados se espremiam cenas de anos. Algumas coisas descartadas, alguns objetos que significam muito, só para mim. Uma fita VHS  mal cuidada com cenas da minha infância me faz pensar no zelo com o passado. Ah, cada memória, cada precioso momento cristalizado em objetos, fotos, trapos e bugigangas, até quando teriam valor? Reza o ditado que só se dá valor quando se perde. Nem sempre. Não tivesse valorizado tudo aquilo, não me custaria muito deixar aquelas paredes já despidas. Interrompo o filme para pensar naqueles que já ocuparam aquele mesmo lugar. Onde estariam? Sentiam ciúmes daquele lugar que já tinha se tornado meu? Pode ser que sim, e pode ser por isso que tenham pedido a casa de volta. Olho novamente para a parede e agora se projeta o futuro. O novo lugar dos meus objetos, dos meus momentos, das minhas cenas, dos meus segredos. Presto minha última homenagem a este lugar que me viu entrar um, e sair outro. Quem sabe um dia, por ironia do destino, ou vontade mesmo, eu volte a te encontrar? Peço a benção ao destino, a estas novas paredes, sejam o que eu viver. Levanto vagarosamente, fecho a porta atrás de mim, com lágrimas no coração.

2 comentários:

  1. Mudanças fazem bem, normalmente. Mas é difícil nos desapegarmos das coisas. Até mesmo das paredes. "Tudo encaixotado. Em papelões quadrados se espremiam cenas de anos." Amei.

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