1 de agosto de 2011

Proust.

O prato principal era Proust. De "Em busca do tempo perdido" a "Sodoma e Gomorra" tudo lhe apetecia. Vontade insana de deixar o mundo e mergulhar no escritor e, simultaneamente,  imenso medo de esgotar suas obras e tudo o que tratava delas. Queria Proust. Desejava Proust. Lambia cada palavra com o desejo de sentir o gosto mais específico de cada uma. Sentia ciúmes de Proust. Sentia-se traído só de pensar que a cada leitura de sujeitos diferentes, pensamentos que nunca seriam expostos nos papéis passariam pelas mentes e das quais ele jamais teria conhecimento. Precisava pensar que era somente ele. E Proust. Talvez fosse a identidade enorme. Servira o exército também, mesmo com problemas de saúde, por um ano. Talvez também fosse incompreendido em vida, como Proust. Seria a ligação enorme com a mãe que o aproximava tanto do que Proust era? Eram tantas identidades. A homossexualidade era comum, também. Os últimos cinco anos mudaram sua vida, assim como os cinco grandes anos transformadores da vida do autor. E o que ele tinha? Apenas livros, e mais livros, palavras que explicavam quem ele era, e quem os outros o julgavam ser. Se ao menos pudesse se encontrar com ele, estaria disposto a cortar seus pulsos e chegar lá. Mas não sabia se a morte o levaria a isso, na incerteza, melhor aproveitar cada segundo, com Proust. No espelho, encontrou alguém perdido. Poderia ser ele Proust, reencarnado, não sabia mais no que acreditar. Sabia que naquele dia, seria morto por ele mesmo, por sua boca. Seis páginas o separavam do fim.

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