Foram três encontros até que chegasse a coragem. Digamos que ela, a coragem, nascera pequenininha, tímida. Mas ela nasceu. Como assim? Nunca beijou? Me sentia pressionado pelos outros. Não, não era mais adolescente. Ou pelo menos não me considerava mais assim. Tinha 18. Mas aquilo me fazia voltar ao que eu chamava adolescência. Acho que este sentimento é o que define adolescência. Senti meu coração na boca, borboletas não voando, mas me carregando pelo estômago. E o medo? Daria um livro todo à parte. Dia marcado, hora marcada, vou caminhando lentamente ao local. Ensaiava o que dizer, e apagava tudo no mesmo instante. Pensava em parar, voltar atrás, mas as vozes dentro de mim me pressionavam. Foram três encontros, o primeiro um fiasco, o segundo metade de fiasco, o terceiro talvez não chegasse a um terço, mas mesmo assim, fiasco. Palavras de lado, mirei a boca. Senti vontade de senti-la. Me aproximei. Não era mais uma pessoa à minha frente, era uma boca, a que me daria o meu primeiro beijo. Como quem coloca o dedo em alguma matéria nunca antes conhecida na face da Terra, encostei meus lábios trêmulos naqueles lábios mais seguros que os meus. O som de Sabdy e Júnior do rádio e aquele halls não foram o que eu senti. Foi doce, foi macio, foi estranho, foi novo. Mas foi. Depois de me despedir, não pensei na marca que poderia ter ficado nos meus lábios, agora inchados. Mas na marca que ficara ardendo, me esquentando, no meu coração.
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