6 de abril de 2010

Homenagem ao meu.

Para meu sempre Saul Bernar (in memorian)
Não sei bem como aconteceu mas ali estava eu. Parado, imobilizado num instante que parecia congelado no ártico das minhas conclusões sem fundamento. Senti o frio acariciar meu rosto e uma lágrima rolar involuntariamente. Enquanto a lágrima caía eu notei o seu percurso. Como algo que estivesse destinado a chegar ao seu fim que era o nada. Senti então um arrepio desses de confundir as ideias. Refleti sobre a necessidade de estar ali. Seria mesmo preciso? Fui eu mesmo quem escolhera estar ali, e nunca tivera tanta certeza do que queria. E eu queria voltar. Queria sentir o avesso do arrepio, ver a lágrima retomando seu percurso de volta e o vento frio abandonando as carícias no meu rosto num sentido contrário. Foi justamente nesse momento que voltei como quisera outrora. Me vi naquele momento mágico em que meu olhar encontrou o dele. Lembrei de todas as emoções que se misturaram e formaram aquele novo sentimento sem nome. Meu mundo antes daquilo tinha sido um aquecimento. Virei o copo de uísque e sorri levemente com o canto da boca. Fui retribuído e acreditei estar tendo um devaneio. Num impulso impressionantemente magnético me senti puxado a passos lentos até perto daqueles olhos. Minha respiração foi ficando ofegante e senti meu coração subir. Uma adrenalina me tomou deixando minhas mãos trêmulas e suadas encostarem em seu rsoto. Me perguntei por onde ele andava todo esse tempo e o reconheci num passado nunca antes vivido. Nossos corpos pertenceram-se desde sempre. Como num vácuo passei rapidamente por todos os momentos vividos, todas as sensações, desde o gosto do uísque, aos extases volupstuosos, o gosto amargo do café expresso pela manhã fria mas com o coração aquecido, a ansiedade de vê-lo chegar exausto do trabalho, o vapor no banheiro e a ducha quente esfriando o calor dos nossos corpos em atrito, o sabor de hortelã da sua boca, o timbre rouco de seus sussurros e gemidos, o barulho das teclas do computador e sua concentração estampada naqueles óculos quadrados, o poder revigorante do seu abraço apertado, o sabor dos planos e desejos e a sensação do sonho que era só meu. E dele. Numa fração de segundos caminhei lentamente sobre as lembranças tentando freiar compulsivamente para não chegar ali. Foi quando ouvi o estrondo da lágrima se estatelando no chão que não estava mais ali. Olhei para o infinito distante que tinha acabado naquele dia. Perdi as palavras e a salivação. Tentei respirar fundo mas meu corpo reagia. Ele não queria. Eu também não. Abracei-me, então. Recostei-me na parede e deixei-me deslizar. Sentiria sua falta e sua presença. Aqui, em mim, para sempre. Adeus.

4 comentários:

  1. Magnífico!!
    O que dizer amigo?
    Nas tuas palavras vejo o teu coração!!
    Amei!

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  2. Perfeito, seu texto, a sua cara.
    Intensidade, sempre.
    Amo.

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  3. Fiquei tonta.

    Esse é o meu melhor elogio. Só fico assim quando o texto puxa e carrega para dentro dele.

    Amei!

    (e ainda estou tonta, tontinha)

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