Eu não lembro, nem ninguém, mas acho que um dia fui alguém totalmente sem corpo. Pessoa, só de consciência, sem massa. Não dessas coisas do espiritismo, mas alguém mesmo, esperando um dia nascer. E acho que lá de onde eu olhava tudo eu imaginava quem eu seria. As coisas que eu quereria conquistar, as pessoas com as quais quereria ter contato. Um dia fiquei sabendo que era a minha vez. E de lá me fiz broto de ser. Era estranho, mas eu sabia que iria ter que aprender a viver. Era estranho mas eu sabia que ia encontrar um punhado de pessoa dentro de corpos. E que esse punhado já tivera contato com mais outro punhado e que nessa misturança de punhados a galera tinha até criado costumes e jeitos, se dividido em grupos por cor, por credo, por parentagem, e até tinha brigado com outros grupos por conta de diferenças. Aí antes mesmo de nascer fiquei pensando. Um dia, todo mundo foi gente sem corpo. Sem cor, sem grupo, sem parentagem, sem credo. Será que valeria a pena entrar nessa brincadeira? E todos os sonhos que eu tinha feito? Eles passariam por uma peneira dessa gente toda que me esperava. Não que eu quisesse desapontar aquela que me carregava, mas ela também esperava demais de mim. Aí por não querer entrar nessa loucura, pedi pra voltar. Voltei a ser essa coisa sem corpo que eu sou. Minha ex-futura-parentagem chorou, porque diziam me querer. Mas eu não quis mesmo. Desculpa, não to preparado para encarar tudo isso. Vou ficar daqui, olhando, vendo o mundo girar, na ânsia de um dia poder ser quem eu quiser, sem expectativas, ou sem correr o risco de morrer porque escolhi ser diferente do grupo, do credo, ou da parentagem que me fez corpo. Vou ficar esperando... Só esperando...
Lindo, Pedrooo!
ResponderExcluirParabéns.
Adorei. Um dos seus melhores textos, tenho certeza. Beijos.
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