15 de março de 2011

Licantropia.

Até aquele dia tinha sido o bonzinho que todos poderiam usar ou dispensar quando quisessem. Levantou de madrugada fudido depois de um desses sonhos reveladores e queria mesmo é dar o troco. Enquanto tentava se arrumar, previa o itinerário de insultos e os indivíduos que bem mereciam seu vômito de palavras indecentes. Lembrou cada momento que foi deixado de lado e os sorrisinhos falsos que engoliu a seco. Algo em suas veias estava em ebulição, queria sair das veias, explodir o corpo e ferir vagarosamente aqueles que o haviam insultado. O pior era imaginar os olhares. Olhares conversando sobre ele em todo o canto, como quem discute a possibilidade de nunca mais vê-lo. Olhares que seguravam frases que esperavam ser ditas, mas que pela gentileza tão inocente do bonzinho jamais puderam ser soltas, e ele faria isso hoje, causaria uma rebelião nas sentenças presas, queria o choque, queria a guerra, queria perguntas mal-resolvidas e palavras de ataque. Em meio a tanto ódio deitou no sofá esperando amanhecer o dia para travar a sua vingança às claras, quando acordou, o mundo estava de novo azul, e voltou a sorrir pelo mundo. 

Um comentário:

  1. Todo bonzinho o é enquanto lhe cabe. Às vezes por conveniência, é muito mais fácil sorrir e ter sorrisos de volta. Difícil é dizer o que se pensa e manter o amigo ali. Mas é bom ser bonzinho. Só tem que cuidar pra não ser bobo, né... Adorei, mesmo, o texto.

    ResponderExcluir

Abra sua mente. Despeje aqui o que sente. Faz bem.