19 de maio de 2011

Dos sentidos da vida.

Foi difícil encarar aquele buraco. Ele olhava, olhava, olhava e não entendia. Tão fundo quanto aquele buraco era o vazio que sentia no peito, talvez maior ainda, perdera a noção de medidas. Acendeu um cigarro, fumaça em ascenção. Pensou na gravidade e em todas as leis que era obrigado a seguir pelo fato de ser humano. A vida sempre lhe fora complicada de entender, quisera não querer entendê-la. Uma das coisas das quais gostaria de estar imune era o apego, maldito cordão umbilical e o que ele representaria por toda vida. Ou melhor, o que ele representaria ali, na morte. Se bem que, não fosse ele, não lamentaria o que estava lamentando, estava confuso. Deixou que a emoção lhe falasse e sua lágrima molhou um pedaço do caixão. As coisas continuavam andando, a joaninha na beira do abismo do buraco, as formigas, a grama verde suja pelo barro cavocado. Só não sabia se elas entendiam os sentidos como ele julgava entender, talvez caminhassem sem sentido, talvez não. E entendeu o sentido da vida ao mirar o caixão no fundo buraco negro. Por toda e qualquer conquista que se tenha feito, a resposta estava ali. Pensou em sua biblioteca particular, em sua coleção de trevos de quatro folhas, do pão de casa cortado e coberto por um guardanapo na cozinha, da louça limpa escorrendo e do cheiro do amaciante da lavanderia. Abraçou seu próprio coração e sentou ali mesmo, até não se lembrar mais.

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